Para discutir smart cities terá lugar em Braga, no Theatro Circo, a 24 e 25 de maio, o FICIS 2016 – Fórum Internacional das Comunidades Inteligentes e Sustentáveis. Terá como lema a “UTOPIA” celebrando os 500 anos da edição desta obra de Thomas More. A “New Way of Thinking” foi o lema do FICIS 2015 que contou com 1096 visitantes, 51 expositores, 35 oradores e moderadores, vindos de 11 países que partilharam as mais recentes tendências e inovações.
O FICIS 2016 dirige-se a cidadãos, líderes de opinião, decisores, especialistas com ideias e empresas com meios para transformarem as ideias em realidade. Todos partilham o mesmo espaço onde as ideias e os projetos para as smart cities se transformam em realidade, para o bem-estar e felicidade das comunidades.
Para o sucesso de uma smart city é essencial uma visão clara assumida pelo “líder” da cidade que permita trilhar o caminho dos grandes objetivos a atingir. Esse caminho deve ser paulatinamente construído com iniciativas nos domínios em que cada cidade se pretende afirmar, com recurso às TIC e com o envolvimento ativo dos seus cidadãos. A afirmação das cidades enquanto smart cities só é possível se elas próprias dinamizarem essa imagem através de redes de smart cities.
A visão apresenta a estratégia da cidade e da inovação e descreve as prioridades e a forma como implementar as TIC para alcançar os objetivos. A mobilidade, o ambiente e a governança são os domínios mais relevantes, uma vez que as metas associadas são coletiva e amplamente partilhadas.
É essencial que as soluções tecnológicas implementadas gerem impactos positivos significativos. A façanha tecnológica, só por si, nem sempre leva aos resultados pretendidos mas ela é muito induzida pelos circuitos de decisão existentes. Há maus investimentos em cidades que implantaram soluções que representaram custos sem as contrapartidas esperadas para a cidade.
Soluções com uma abordagem participativa “bottom-up” facilitam a sua apropriação pelos cidadãos e com “quick wins” atingem mais rapidamente os objetivos e metas. As iniciativas bem-sucedidas atraem um amplo apoio, têm objetivos claros e alinhados com as metas, as políticas e os problemas reais, produzindo resultados com impactos concretos na qualidade de vida das comunidades.
Em Amesterdão a conversão para projetos de energia verde “ship-to-grid” e sistemas de iluminação mais eficiente, com tecnologia LED e sensores, resultaram na redução imediata das emissões de CO2 e do consumo energético. Já em Barcelona sistemas de iluminação LED com sensores de movimento, que recebem informação do ambiente (temperatura, humidade, poluição e ruído), é uma das iniciativas bem-sucedidas. Toda a informação é enviada para um centro de controlo que a monitoriza e gere. Em Manchester o projeto DEHEMS mede o consumo energético nas habitações em tempo real através de smart meters, fornece feedback aos utilizadores e permitiu reduzir em 20% o consumo energético.
Helsínquia, exemplo de sucesso de iniciativas “open data”, é pioneira na criação de uma plataforma aberta de dados municipais, premiada com o “European Prize for Innovation in Public Administration” em 2013, que permite o envolvimento dos cidadãos na tomada de decisão. A participação dos stakeholders locais é um fator de sucesso para a aceitação pública desta iniciativa. Com a iniciativa “Open Data website” Florença tornou-se a única cidade em Itália com cinco estrelas relativamente à qualidade e acessibilidade da informação.
Copenhaga tem uma extensa rede de ciclovias, com soluções de “bike sharing” e transporte intermodal integrado, para além de “smart cards”. Em 2011, 35% dos habitantes utilizaram a bicicleta nas suas deslocações para o trabalho e tem como meta para 2025 que 75% dos habitantes utilizem modos ativos e transportes públicos nas suas deslocações do quotidiano. Viena tem um plano de mobilidade integrada com recurso a aplicativos e interfaces físicos que facilitam a utilização dos diferentes modos de transporte.
O investimento determinante para o sucesso de uma smart city é o centro de gestão de rede de redes que corresponde ao cérebro da cidade digital. Este centro recebe todos os dados de sensores e redes e, através de ferramentas de bussiness inteligence, coloca à disposição dos serviços públicos, investidores e utilizadores da cidade informação útil para as suas tomadas de decisão, contribuindo para a competitividade da cidade e qualidade de vida dos seus cidadãos.
As cidades reconhecidas como smart cities são as que apostam em programas muito concretos que lhes dão visibilidade internacional nas redes a que pertencem.
Há vários rankings internacionais que cruzam diferentes áreas e domínios como o “European Smart City Model” que inclui cidades europeias de média dimensão e que esteve na definição dos domínios das smart cities definidos pelo Parlamento Europeu, ou o “Smart Cities Wheel” de Boyd Cohen, o “European common indicators” da União Europeia, o “Smarter City Assessment” da IBM, o “Cities of Opportunities Index” da PwC, o “ICT Development Index” da ITU, entre outros. Cada ranking mede cidades de diferentes dimensões e envolventes. Ou seja, o ranking para uma cidade como Braga é diferente do aplicável a Lisboa, mas também diferente do de Vila Nova de Gaia, uma vez que esta última é fortemente influenciada pela centralidade da cidade do Porto. A nível nacional só Coimbra está avaliada no “European Smart City Model”.
As cidades bem-sucedidas apresentam uma visão clara, o comprometimento do “líder” da cidade, investimentos no “centro de gestão da rede de redes” e com “quick wins” percebidos pelos cidadãos porque, tal como diz o presidente Ricardo Rio, ”não há smart cities sem smart citizens”.
Certo é que não há duas cidades iguais.