Pretende ser um dos “maiores pólos de inovação e empreendedorismo da Europa” e está a fazer por isso: na antiga Manutenção Militar, na zona Oriental de Lisboa, o Hub Criativo do Beato (HCB) está em obras, mas as ideias para o espaço não param de surgir. A mais recente foi apresentada na última quinta-feira, na Casa do Capitão, e propõe criar um laboratório vivo no HCB. A ideia é testar, ali, soluções com vista à sustentabilidade ambiental, acrescentando-lhes uma  “camada de inteligência” que permita usar a analítica de dados para alimentar a inovação.

Durante três anos, a iniciativa vai incluir nove operações estruturadas nas áreas de energia, edifícios, mobilidade e economia circular e ambiente que transformarão o HCB num “smart campus e laboratório vivo permanente”, num investimento de cerca de dois milhões de euros co-financiados em 40% pelos EEA Grants.

Sustentabilidade vai ser palavra chave do projecto, que será levado a cabo pela Startup Lisboa (entidade responsável pela gestão do HCB), com a coordenação técnica da Lisboa E-Nova e em parceria com a câmara municipal de Lisboa (CML). O HCB Living Lab (HCB LL) conta também com a participação de um consórcio de parceiros – alguns dos quais residentes do HCB –, no qual se incluem Carris, Circular, DST Solar, Innovation Point, Mota-Engil Renewing, Praça, Prio, Schréder, The Browers Company e Watt-IS. Nesta “acção concertada” entre os sectores públicos e privados com vista a uma transição energética justa, o projecto ambiciona ainda envolver a comunidade científica e as comunidades locais, avançou Maria João Rodrigues, da Lisboa E-Nova.

A criação de uma comunidade de energia renovável (solar) é uma das acções previstas e que vai permitir demonstrar, no HCB, como este “conceito avançado” pode funcionar, unindo produtores-consumidores (prosumers, na expressão em inglês), consumidores e soluções de armazenamento dinâmico, recorrendo a uma infraestrutura de carregamento eléctrico a implementar. Segundo Maria João Rodrigues, para além das empresas parceiras que assegurarão a implementação das soluções, a demonstração irá também envolver entidades públicas do sector energético que estão “muito interessadas” no conceito.

Na área da mobilidade sustentável, o uso de transportes públicos vai ser promovido através do Beato BioBus, utilizando, nos autocarros que servem o local, biodiesel feito a partir de óleos alimentares recolhidos no HCB e junto da comunidade envolvente. Está também previsto que a cobertura do edifício da Factory ganhe vida com a criação de uma horta urbana nos 700 metros quadrados disponíveis. A acção tem vários objectivos, desde a investigação à demonstração de viabilidade de produção, incluindo a produção de lúpulo para a cerveja artesanal e de aromáticas, de forma a aproveitar as cadeias curtas e de proximidade, e a adopção do modelo de hortas urbanas da CML. Adicionalmente, a instalação de uma horta na cobertura vai ajudar a equipa a analisar o impacto no desempenho ambiental da estrutura.

Por sua vez, de forma a melhorar o sistema de iluminação pública do local, que assenta já em tecnologia LED, o projecto vai introduzir uma “camada de inteligência” à infraestrutura, testando diferentes valências nos postes de iluminação existentes.

Inteligência e dados ao serviço da inovação

Em complemento à sustentabilidade ambiental, o HCB LL pretende incentivar a inovação e o desenvolvimento de soluções tecnológicas. É o que vai acontecer, por exemplo, com o sistema alimentar: de modo a promover a circularidade, o projecto contempla a criação de uma ferramenta de fluxos materiais associados ao sistema de restauração para avaliar as estratégias de cadeia curta com diferentes âmbitos territoriais e de fecho de ciclo.

A recolha e a análise de dados serão também peças no HCB LL, articulando com aquilo que está já a ser feito pela cidade de Lisboa fora dos limites deste laboratório vivo, apontou Maria João Rodrigues. Para isso, será criado um sistema de sensorização e carregamento HCB, implementado na infraestrutura de postes existentes e que será equipada com sensores de ocupação e ambientais, sistemas de som, CCTV e carregamento eléctrico, a par de uma estação meteorológica de referência e sensores de radiação instalados nas coberturas de edifícios selecionados.

Estes dados serão agregados numa plataforma de gestão inteligente, a HCB i-Management, que permitirá a análise e monitorização dos KPIs do projecto, e vão alimentar o novo Laboratório de Dados HCB, a partir do qual serão lançados desafios à comunidade científica para encontrar soluções em áreas prioritárias para a iniciativa. Por fim, e incentivando o empreendedorismo, estes dados serão também a matéria-prima para um Programa de Aceleração Clean Tech, que será conduzido pela StartUp Lisboa.

Um projecto para “ser copiado”

“Queremos transformar o HCB num smart campus de excelência e contribuir para a melhoria da sustentabilidade ambiental do projecto a partir das operações inovadoras que estamos a lançar. Através deste laboratório vivo, esperamos também motivar o ecossistema empresarial da cidade a integrar soluções sustentáveis na criação e desenvolvimento dos seus negócios, bem como, inspirar a criação de novos laboratórios vivos noutros ecossistemas de empreendedorismo”, explicou, por sua vez, em comunicado, Miguel Fontes, director executivo da StartUp Lisboa.

A apresentação do HCB LL aconteceu no âmbito da 10ª Semana de Empreendedorismo de Lisboa, que decorreu entre os dias 24 e 30 de Maio, e contou com a presença de representantes dos vários parceiros envolvidos no projecto, incluindo os vereadores da CML José Sá Fernandes e Miguel Gaspar. Enquanto responsável pelos pelouros da inovação, economia e mobilidade, Miguel Gaspar apontou o HCB LL como um “projecto sobre cidades inteligentes” que mostra o que se “consegue fazer em parceria”, “quando há interesse das partes” e não “[só] porque existe financiamento”. O autarca sublinhou ainda as possibilidades que locais como o HCB, por não serem espaços públicos, proporcionam à experimentação, e mostrou-se convicto de que este é um “projecto que outros vão copiar”.

Para além dos governantes locais, estiveram também presentes Tove Bruvik Westberg, embaixadora da Noruega em Portugal, Susana Ramos, coordenadora dos EEA Grants, e Alexandra Carvalho, directora do Fundo Ambiental. Recorde-se que os EEA Grants consistem no Mecanismo Financeiro plurianual, através do qual a Islândia, o Liechtenstein e a Noruega apoiam financeiramente os Estados-Membros da União Europeia com maiores desvios da média europeia do PIB per capita, onde se inclui Portugal. Até aqui, mais de 200 projectos em território português foram já apoiados pelo mecanismo em áreas como mar, ambiente, cultura, conciliação e igualdade de género.