As pessoas estão no centro do processo de tomada de decisão de qualquer Smart City. Isso faz delas um dos principais eixos do Sharing Cities, o programa da União Europeia que irá transformar Lisboa numa das cidades europeias mais empenhadas na sustentabilidade e na participação digital dos cidadãos. Até final de 2020, a capital portuguesa e as outras duas cidades-farol do programa, Londres e Milão, apostam nas mudanças de comportamento dos seus habitantes. E estas poderão contribuir para a definição das ações a implementar, participando ativamente em esquemas inovadores de design partilhado, que juntarão a comunidade local e as equipas técnicas nos processos de criação e desenvolvimento das soluções Sharing Cities.

Outra é o Show Room, concebido pelo líder local do projecto, a Câmara Municipal de Lisboa, com o apoio dos restantes parceiros, e que ficará instalado no piso térreo de um prédio pombalino junto à praça do município. O edifício, de cinco mil metros quadrados, está a ser alvo de requalificação estrutural e energética do Sharing Cities e irá acolher serviços da autarquia. Um lugar perfeito para mostrar aos lisboetas, entre outras vertentes do programa, como podem participar na criação e gestão da grande base de dados que ajudará a cidade a reduzir os consumos energéticos, baixar a emissão de gases com efeitos de estufa, ou reduzir o ruído do trânsito.

No âmbito do projeto, estão a ser desenvolvidas várias aplicações digitais interativas que permitem a ação e a mudança de comportamento dos cidadãos em questões ligadas à eficiência energética, energias renováveis ou mobilidades sustentável. Estes recursos poderão ser utilizados na zona central da cidade. A ação dos moradores, registada e executada através destes e de outros serviços tecnológicos partilhados, permitirá ao município reorientar, em tempo real, as suas decisões de gestão ambiental.

Privacidade, anonimato e segurança são princípios fundamentais do programa de pesquisa que permite o desenvolvimento destas aplicações. A análise do estado da arte no que toca a mecanismos de incentivo à participação, as dificuldades de acesso a smartphones, a prospecção de práticas das populações ajudam a obter uma imagem real das cidades que permita mobilizar o maior número possível de cidadãos.

Prevê-se também que sistemas e aplicações possam, em larga medida, funcionar em regime de dados abertos e até de código livre. Isto permite agregar contributos de todos e fortalecer a participação. A promoção de mudanças de comportamento é, aliás, um dos grandes objetivos do eixo das Pessoas do projeto Sharing Cities. As escolhas coletivas ajudam a baixar os consumos de energia e de recursos naturais, mas também podem trazer recompensas.

O estímulo positivo está previsto como incentivo do uso das aplicações que se estão a desenvolver. A participação nas escolhas com impacto permitirá a cada habitante colecionar um conjunto de créditos. Estas recompensas – que, nalguns casos, podem ser monetárias ou de uso de serviços camarários e das empresas participantes no programa – podem ser usadas quer em benefício próprio, quer a favor da cidade. Neste último caso, é o próprio cidadão, num modelo participativo, a decidir como quer investir uma parte dos incentivos recebidos. Admite-se que a experiência já acumulada pela autarquia na elaboração do orçamento participativo camarário ajudará a garantir o sucesso deste ciclo virtuoso e sustentado.

Para aplicar e levantar os três eixos de ação do projecto nas três cidades – os eixos das PessoasLugares/Infraestruturas e Plataformas digitais –, está garantida uma verba de quase 25 milhões de euros, provenientes da União Europeia. Um valor que pode aumentar bastante. Entre autarquias, empresas e universidades, o consórcio fundador integra 35 parceiros também eles contribuintes líquidos num montante que passará os 280 milhões de euros. A acrescentar a estas verbas, os responsáveis acreditam que o Sharing Cities é suficientemente atrativo para captar um investimento total de 500 milhões de euros. No conjunto, prevê-se que os exemplo e ações do programa venham a atingir 100 cidades, das quais, além de Lisboa, dez portuguesas. A saber, Abrantes, Évora, Funchal, Loures, Matosinhos, Portimão, Sines, Sintra, Vila Nova de Gaia e Viseu.

A conferência “Cidades Inteligentes – Cidades do Futuro”, organizada pela Lisboa E-Nova, Agência de Energia e Ambiente de Lisboa, realiza-se já no próximo dia 30 de Novembro, no Fórum Picoas, em Lisboa, e apresentará os diversos eixos e ações previstas no âmbito deste projeto.