O mais antigo festival de cinema ambiental, o CineEco, regressa em outubro à Serra da Estrela, com 65 filmes de 27 países a concurso. Uma seleção “humanista” que mostra como estão as pessoas a lidar e a sofrer com os efeitos das alterações climáticas, como conta à Smart Cities Daniel Oliveira, um dos programadores do certame, que decorre em Seia.
“O mais importante deste festival é o facto de apresentar uma narrativa assente em questões ambientais do nosso tempo que são urgentes, mas diferente daquela com que somos confrontados nos jornais e nas salas de aulas”, explica Daniel Oliveira, um dos programadores do CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela.
“Propomos uma visão humanista que retrata o efeito das alterações climáticas na vida das pessoas, mostrando como sofrem e lidam na realidade com problemas concretos”, acrescenta.
O único festival de cinema português exclusivamente ambiental e um dos mais antigos do mundo dedicados aquela temática, realiza-se entre os próximos dias 5 e 13 de outubro, na Casa Municipal da Cultura de Saia, e promete “grande diversidade de filmes e de olhares”. A Smart Cities é um dos parceiros de media. “Quando se fala de cinema ambiental, pensa-se em documentários feitos a partir do saber científico. Mas no CineEco percebe-se uma grande diversidade de abordagens a partir do contexto social e político dos realizadores”, sublinha Daniel Oliveira, que assume a programação do Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela com Cláudia Marques e Tiago Dias.
Exemplo de diversidade é o documentário checo na primeira pessoa The Visitors (Návštěvníci), que retrata a vida da realizadora Veronika Lišková e da sua família na cidade mais setentrional do planeta – Longyearbyen, na Noruega. Durante dois anos, a cineasta checa registou a forma como aquela comunidade se tem vindo a adaptar às consequências do aquecimento global, ao mesmo tempo que filmou a adaptação de estrangeiros a um local em constante mudança.
“Rejeito”, de Pedro de Filippis, é um documentário brasileiro que parte da tragédia de Brumadinho, no estado de Minas Gerais, provocada pelo rebentamento de uma barragem. Uma onda de lama destruiu comunidades, matando mais de 270 pessoas e contaminando centenas de quilómetros de terra. “O filme mostra a mobilização de uma comunidade que perdeu tudo, mas que luta com dignidade para que os responsáveis pela tragédia sejam condenados”; explica Daniel Oliveira.
Os temas dos filmes a concurso distribuem-se por cinco categorias, – internacionais de longas-metragens e de curtas e médias-metragens, longas-metragens e curtas-metragens em língua portuguesa e panorama regional – e são um convite à reflexão sobre mudanças comportamentais. A resistência de pequenas comunidades a tragédias ambientais, os direitos dos povos indígenas, a relação entre famílias, género e meio ambiente, a relação entre migrações e ambiente, e os impactos e consequências dos incêndios em Portugal são questões abordadas pelas fitas que passarão em Seia.
“Um festival visionário”
“O Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela foi visionário à época da primeira edição, em 1995. Foi pensado com o objetivo de despertar consciências para as questões ambientais, educando um vasto e variado público para problemáticas como a redução da biodiversidade, as alterações climáticas, a sustentabilidade alimentar, a gestão de resíduos, o stress hídrico, entre outros”, explica Célia Barbosa, vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Seia.
Durante nove dias de outubro, a contar da ponte do feriado da Implementação da República, Seia vai transformar-se num “local de consciência e de encontro entre comunidade educativa, realizadores, jornalistas e ativistas ambientais”. O CineEco leva “um ambiente cosmopolita à cidade, com a presença das diversas personalidades que fazem parte do júri do concurso”, retrata a autarca.
“Este ano, o festival é intencionalmente mais cedo, para aproveitarmos a ponte proporcionada pelo feriado de 5 de outubro. Programamos um fim de semana prolongado com filmes para todos os gostos e idades, com o propósito de atrair público para o festival, aliando o cinema a uma escapadela à Serra da Estrela”, explica Célia Barbosa. O CineEco “é uma imagem de marca, através da qual é divulgado o património natural, histórico e cultural da região”, acrescenta.
Nesse sentido, a autarquia oferecerá, durante o festival, pacotes com sugestões de visitas a outros equipamentos culturais da cidade, como o Museu do Brinquedo, o Museu Natural da Eletricidade e o Museu do Pão.
O festival é também um instrumento de educação ambiental, em que a autarquia aproveita para dinamizar uma série de atividades com as escolas e a comunidade. “Temos como missão despertar consciências”, diz Célia Barbosa, orgulhosa pelo alcance do CineEco. “Tem vindo sempre a crescer e a fazer de Seia o centro da discussão ambiental”, conclui a autarca.
No edição do ano passado, o CineEco contou com 5500 espectadores, marca que a organização espera superar este ano.