Observação da Terra, Internet das Coisas, Big Data e Data Analytics – imagine todas estas tecnologias juntas numa só ferramenta. A solução já existe: resulta de um projecto europeu, chama-se Decumanus e promete ajudar a melhorar a qualidade de vida e mitigar os efeitos das alterações climáticas nas cidades, fornecendo informação de 90 indicadores urbanos, as suas diferentes variáveis e os efeitos na vida das pessoas. Cinco cidades europeias já estão a utilizá-lo.

Antuérpia (Bélgica), Helsínquia (Finlândia), Londres (Reino Unido), Madrid (Espanha) e Milão (Itália) são as cidades piloto onde o Decumanus está a ser testado para obter dados sobre uma série de parâmetros que influenciam a qualidade de vida das suas populações e nos quais as alterações climáticas poderão ter um efeito significativo. Eficiência energética, qualidade do ar, qualidade da água, uso do solo são algumas das áreas que é possível monitorizar com a ferramenta, servindo como fonte de informação para que governos, empresas e cidadãos possam tomar decisões mais acertadas.

De que forma? Tudo começa com a combinação entre dados de observação via satélite da Terra e outros recolhidos por redes de sensores distribuídas pela cidade, sendo depois integrados com informação de fontes como cadastros, estatísticas de organismos oficiais e até redes sociais. Os serviços disponibilizados pelo Decumanus agrupam-se em sete conjuntos, nos quais o utilizador, em função das suas necessidades, pode aceder a informação básica ou avançada – clima urbano, qualidade do ar, impacto da alteração de indicadores climáticos ou da qualidade do ar na saúde do cidadão, controlo de eficiência energética, uso do solo, impacto em diferentes áreas da cidade de inundações ou aumentos do nível do mar, qualidade de água.

Em comunicado, a coordenadora do projecto, a empresa de consultadoria e tecnologia Indra, exemplifica o funcionamento da ferramenta: “a inteligência que aporta um sistema deste tipo permitirá detectar, por exemplo, edifícios com baixa eficiência energética, calcular o custo e poupança que implicaria a sua reabilitação”. Mas não só: “será ainda possível detectar as zonas com pior qualidade do ar ou as que registam temperaturas mais elevadas, conhecer as causas e estudar soluções; identificar potenciais problemas de saúde relacionados com aspectos climáticos ou da qualidade do ar; conhecer os serviços de que beneficia cada bairro e se a ligação de umas zonas com outras é a adequada; ou monitorizar as alterações na população para saber se as infra-estruturas e serviços de que dispõe são os adequados”.

Através da exploração inteligente destes dados, é possível conhecer a evolução dos parâmetros ambientais e de qualidade de vida em cada bairro, rua e edifício da cidade. Com essa informação, será mais fácil para as entidades responsáveis cumprir com directivas ou outra legislação aplicável à mitigação e adaptação às alterações climáticas, e também desenhar estratégias mais eficazes nessa matéria.

Para além disso, é ainda possível simular os efeitos de uma política ou medida concreta e, assim, quantificar o seu impacto, informar o cidadão e sensibilizá-lo para a necessidade dessa implementação.

“Em função da sua localização geográfica, o aquecimento global do planeta traduz-se para as cidades em trovoadas mais frequentes, aumento do nível do mar, secas mais prolongadas, vagas de calor mais intensas ou fortes subidas dos rios no Inverno”, explica a nota da Indra. “Para mitigar os seus efeitos, as cidades devem reduzir as emissões de CO2, melhorar a sua eficiência energética, monitorizar a qualidade do ar e introduzir políticas que lhes permitam ser mais sustentáveis e garantir o bem-estar dos seus habitantes. Estas melhorias terão um grande impacto ambiental, tendo em conta que metade da população mundial vive em cidades, onde se gera grande parte do PIB mundial e das emissões de CO2”.

O Decumanus resultou de um projecto europeu, financiado pelo 7º Programa-Quadro, no qual participaram 11 parceiros de sete países. A Indra liderou o trabalho do consórcio, no qual participaram as empresas Eurosense, Geoville, do Centro Aeroespacial da Alemanha – DLR e as universidades Politécnica de Madrid e a University of the West of England em Bristol, e teve ainda o apoio das autoridades locais das cinco cidades envolvidas.